Livr

Quando leio algum livro que passou pela tua mão e me sinto mais perto de ti, divago entre o que leio e a imaginação de como foi o teu processo de leitura. Aqueles livros de escola mesmo. “Será que leu isso tudo? Essa página?”. Folheando, encontro alguma resposta tua, um trecho sublinhado, anotação. Platão me aguarda um pouco e entro em outro mundo das ideias. Percebo que durante todo o ano pareceu usar o mesmo lápis, sem graduação da mina, um traço leve, reta única, sem retorno pra duplicar a linha afim de enfatizar. Em um trecho muito importante, três “!!!” ao lado. Não sei se ela faria o mesmo tipo de traço hoje, mas um dia me contou que não houveram muitas mudanças na vida desde então. O certo é que quando pego teus pertences, toco com cuidado. Considero santo todo livro, mas trato minhas santidades com menos reverência do que tuas páginas. As minhas risco, circulo, anoto bastante no próprio papel (mas sempre em código, nunca se sabe quem assumirá aquela posição de leitor), marco de três cores e quando gosto muito da sentença não bastam exclamações, escrevo ao lado “Que loucura”. Deve ser por isso que naturalmente estou te tateando, como se marcando minha digital úmida na folha da tua pele, riscando tua costa com minha unha-marcador, circulando teu pescoço, enfatizando teu cabelo, mesclando nossa cor e me sentindo livre pra anotar na borda do teu corpo “Que loucura”.

Livro e livre tem o mesmo radical.

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